Autor

Isabella Torquato

Musas da praia: mulheres como eu e você

Fotografia: Katiuscia Dier Francisco

Em 2009, li uma obra do psiquiatra Augusto Cury que me tocou profundamente. Desde então o livro intitulado “A Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres” passou a nortear o meu trabalho como consultora de imagem e estilo pessoal. Em 2014, terminei um curso de pós-graduação em Estudos Avançados sobre Psicologia Transpessal, motivada pela vontade de compreender melhor como funciona a nossa psique – e assim poder ajudar de forma mais ampla as mulheres que atendo. Consciente de que faço um trabalho terapêutico, hoje digo que sou uma terapeuta da imagem.
O meu próprio processo de autoconhecimento e aceitação me trouxe a certeza de que tenho uma missão a cumprir, pois almejo promover a compreensão de que o imenso fenômeno da beleza não se compõe somente por critérios objetivos e mensuráveis, mas também da amplificação da beleza interior. Trabalhar com estilo é fazer com que o outro se exponha, revelando as suas autênticas preferências, aquelas que o comovem. Tenho certeza de que ao encorajar as mulheres a confiar na própria sensibilidade estética, sem delegar a outros tal tarefa, estou incentivando também o seu autoconhecimento e melhorando a sua autoestima e bem-estar.

A cultura ocidental tende a supervalorizar o exterior estético do indivíduo, porém creio que conhecer o outro signifique considerar também o seu interior, o seu coração, o seu modo de ser e a sua visão de mundo. Talvez nem todos se dêem conta disto, mas o respeito pelo outro também é um ato de beleza e valorizá-lo como ser humano, significa levá-lo a se perceber não como a lâmpada que contém a luz, e sim como a própria luz. Essa metáfora usada por Joseph Campbell ressalta que a lâmpada, ou seja, o nosso corpo, é só um veículo e, cedo ou tarde, entrará em decadência, assim como o papel que desempenhamos na sociedade.
Mas falemos especificamente da ação que pude realizar com a ajuda das profissionais e amigas Katiuscia Dier Francisco (fotógrafa) e Franciele Eger (hair stylist no Santa Bela Hair & Beauty) para a Tenda Literária, na Praia da Vila em Imbituba, no dia 08 de fevereiro. A ideia surgiu de uma despretensiosa conversa entre eu e a Kati, durante a qual ela me relatava a sua vontade de fotografar a faceta selvagem da mulher. Vislumbrei então a proposta de uma reflexão sobre "beleza real" na beira da praia junto às mulheres. E foi assim que num domingo à tarde, algumas das representantes do sexo feminino que compareceram à praia puderam nos dar o seu depoimento e vivenciar momentos de “musa”. Enquanto eu me ocupava em colher os seus relatos sobre beleza, a Fran preparava-as com uma produção leve e descontraída e a Katiuscia ia registrando os melhores ângulos e momentos.
Sobre a experiência de ter esse contato mais direto com o público, a Franciele me disse ter amado e relatou ter ficado impressionada com a quantidade de mulheres crespas que lhe confessaram sobre a sutil indução dos salões de beleza para fazerem alisamento. Sorte delas que a Fran adora um cabelo crespo, ainda mais se puder tornar as madeixas mais saudáveis! A nossa hair stylist também gostou de poder despertar nas mulheres mais ousadia e criatividade, pois disse que às vezes, mostrando a elas como prender só uma pequena parte do cabelo, já fazia com que se sentissem outra! Porém, segundo ela, o mais interessante foi a junção de três pessoas de ramos diferentes – mas com o mesmo objetivo – que conseguiram obter, sem que tivessem combinado muito bem o que seria feito, um resultado de fluidez e satisfação. Muitas das suas clientes foram prestigiá-la e, quem sabe da próxima vez, possamos proporcionar a todas passar por essa experiência?
Já a Katiuscia contou-me que sempre se sentiu incomodada pelo fenômeno da “plastificação”, ou seja, pelo mascaramento de questões importantes como a saúde e a beleza. Ela acredita que a única forma de compreendermos o enorme impacto que tal “corrupção” causa nas pessoas é partirmos para um diálogo direto com elas. O fato de nos serem “roubadas” tanto a capacidade de nos percebermos como bonitas quanto a de sermos criativas – de termos o poderio sobre o nosso próprio corpo – causa enorme indignação na fotógrafa. Nas suas palavras: “Podemos sim criar a nossa própria beleza, podemos tanto colocar um grampo nos cabelos ou sair à rua descabeladas!". Relatou-nos ainda que fotografar na praia foi um ótimo exercício para apurar o seu olhar e que foi possível captar nos rostos das mulheres muitas expressões interessantes. Chamou-lhe atenção a postura de entrega por parte das mulheres fotografadas e tanto ela quanto a Franciele me disseram que sentiram as mulheres bem mais relaxadas ao livre do que dentro de um salão ou estúdio.

Para mim o resultado foi simplesmente encantador, contudo revelou-me o quanto ainda encontramo-nos, mesmo que inconscientemente, presas a cruéis ditames de beleza. A maior parte de nós ainda não consegue enxergar a própria beleza, visto que tal “cegueira” é diariamente alimentada por um maciço bombardeio midiático de como deveríamos ser para sermos aceitas. Estive diante de mulheres íntegras e interessantes, cada qual com uma beleza peculiar, entretanto a maior parte delas relatou-me não ter certeza sobre a própria beleza. Porém, no final ganhei um presente... A última das entrevistadas, coincidentemente a mais madura delas – dona de sessenta e cinco anos de linhas de expressão bem marcadas num largo sorriso – foi enfática ao declarar: "Tenho certeza de que sou bonita! Beleza é estar bem consigo mesmo e eu me sinto bem assim como sou". E a sua fala me fez lembrar a atriz italiana Anna Magnani quando vociferou: “Deixem-me todas as rugas, não me tirem nem mesmo uma! Demorei uma vida toda para fazê-las!”.

Texto por Kharina Oleksiuk, terapeuta da imagem. 

Fotografia: Katiuscia Dier Francisco
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2 comentários:

  1. Te agradeço de coração pela oportunidade Isabella Torquato Melendres! Um forte e carinhoso abraço!

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