Em 2009, li uma
obra do psiquiatra Augusto Cury que me tocou profundamente. Desde então o livro
intitulado “A Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres” passou a nortear o
meu trabalho como consultora de imagem e estilo pessoal. Em 2014, terminei um
curso de pós-graduação em Estudos Avançados sobre Psicologia Transpessal, motivada
pela vontade de compreender melhor como funciona a nossa psique – e assim poder
ajudar de forma mais ampla as mulheres que atendo. Consciente de que faço um
trabalho terapêutico, hoje digo que sou uma terapeuta da imagem.
O meu próprio
processo de autoconhecimento e aceitação me trouxe a certeza de que tenho uma
missão a cumprir, pois almejo promover a compreensão de que o imenso fenômeno
da beleza não se compõe somente por critérios objetivos e mensuráveis, mas
também da amplificação da beleza interior. Trabalhar com
estilo é fazer com que o outro se exponha, revelando as suas autênticas
preferências, aquelas que o comovem. Tenho certeza de que ao encorajar as
mulheres a confiar na própria sensibilidade estética, sem delegar a outros tal
tarefa, estou incentivando também o seu autoconhecimento e melhorando a sua
autoestima e bem-estar.
A cultura ocidental tende a supervalorizar o exterior estético do indivíduo, porém creio que conhecer o outro signifique considerar também o seu interior, o seu coração, o seu modo de ser e a sua visão de mundo. Talvez nem todos se dêem conta disto, mas o respeito pelo outro também é um ato de beleza e valorizá-lo como ser humano, significa levá-lo a se perceber não como a lâmpada que contém a luz, e sim como a própria luz. Essa metáfora usada por Joseph Campbell ressalta que a lâmpada, ou seja, o nosso corpo, é só um veículo e, cedo ou tarde, entrará em decadência, assim como o papel que desempenhamos na sociedade.
Mas falemos
especificamente da ação que pude realizar com a ajuda das profissionais e
amigas Katiuscia Dier Francisco (fotógrafa) e Franciele
Eger (hair stylist no Santa Bela Hair & Beauty) para a Tenda Literária, na Praia da
Vila em Imbituba, no dia 08 de fevereiro. A ideia surgiu de uma despretensiosa conversa entre
eu e a Kati, durante a qual ela me relatava a sua vontade de fotografar a
faceta selvagem da mulher. Vislumbrei então a proposta de uma reflexão sobre
"beleza real" na beira da praia junto às mulheres. E foi assim que
num domingo à tarde, algumas das representantes do sexo feminino que compareceram
à praia puderam nos dar o seu depoimento e vivenciar momentos de “musa”.
Enquanto eu me ocupava em colher os seus relatos sobre beleza, a Fran preparava-as
com uma produção leve e descontraída e a Katiuscia ia registrando os melhores
ângulos e momentos.
Sobre a experiência de ter esse contato mais direto com o público, a
Franciele me disse ter amado e relatou ter ficado impressionada com a
quantidade de mulheres crespas que lhe confessaram sobre a sutil indução dos salões
de beleza para fazerem alisamento. Sorte delas que a Fran adora um cabelo
crespo, ainda mais se puder tornar as madeixas mais saudáveis! A nossa hair
stylist também gostou de poder despertar nas mulheres mais ousadia e
criatividade, pois disse que às vezes, mostrando a elas como prender só uma
pequena parte do cabelo, já fazia com que se sentissem outra! Porém, segundo
ela, o mais interessante foi a junção de três pessoas de ramos diferentes – mas
com o mesmo objetivo – que conseguiram obter, sem que tivessem combinado muito
bem o que seria feito, um resultado de fluidez e satisfação. Muitas das suas
clientes foram prestigiá-la e, quem sabe da próxima vez, possamos proporcionar
a todas passar por essa experiência?
Já a Katiuscia contou-me que sempre se sentiu incomodada pelo
fenômeno da “plastificação”, ou seja, pelo mascaramento de questões importantes
como a saúde e a beleza. Ela acredita que a única forma de compreendermos o
enorme impacto que tal “corrupção” causa nas pessoas é partirmos para um
diálogo direto com elas. O fato de nos serem “roubadas” tanto a capacidade de
nos percebermos como bonitas quanto a de sermos criativas – de termos o poderio
sobre o nosso próprio corpo – causa enorme indignação na fotógrafa. Nas suas
palavras: “Podemos sim criar a nossa própria beleza, podemos tanto colocar um
grampo nos cabelos ou sair à rua descabeladas!". Relatou-nos ainda que fotografar
na praia foi um ótimo exercício para apurar o seu olhar e que foi possível
captar nos rostos das mulheres muitas expressões interessantes. Chamou-lhe
atenção a postura de entrega por parte das mulheres fotografadas e tanto ela
quanto a Franciele me disseram que sentiram as mulheres bem mais relaxadas ao
livre do que dentro de um salão ou estúdio.
Para mim o resultado foi simplesmente encantador, contudo revelou-me
o quanto ainda encontramo-nos, mesmo que inconscientemente, presas a cruéis ditames
de beleza. A maior parte de nós ainda não consegue enxergar a própria beleza, visto
que tal “cegueira” é diariamente alimentada por um maciço bombardeio midiático
de como deveríamos ser para sermos aceitas. Estive diante de mulheres íntegras
e interessantes, cada qual com uma beleza peculiar, entretanto a maior parte
delas relatou-me não ter certeza sobre a própria beleza. Porém, no final ganhei
um presente... A última das entrevistadas, coincidentemente a mais madura delas
– dona de sessenta e cinco anos de linhas de expressão bem marcadas num largo
sorriso – foi enfática ao declarar: "Tenho certeza de que sou bonita! Beleza é estar bem consigo mesmo e eu me sinto bem assim como sou". E a sua fala me fez lembrar a atriz italiana Anna Magnani quando
vociferou: “Deixem-me todas as rugas, não me tirem nem mesmo uma! Demorei uma
vida toda para fazê-las!”.
Texto por Kharina Oleksiuk, terapeuta da imagem.
Texto por Kharina Oleksiuk, terapeuta da imagem.
Fotografia: Katiuscia Dier Francisco
Te agradeço de coração pela oportunidade Isabella Torquato Melendres! Um forte e carinhoso abraço!
ResponderExcluirKharina, trabalho legal é para ser mostrado ;) Beijos!
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